domingo, 17 de maio de 2009

Imagem e semelhança da música


Após um semestre tentando encontrar alguma pista que me fizesse acreditar que o meu interesse por gêneros audiovisuais fazia algum sentido, eis que, no último dia de uma das melhores disciplinas do meu curso, já deixando a sala, ouço um elogio que dedico em parte à minha admiração e interesse pelo gênero auddivisual televisivo pós-moderno, o videoclipe - "Muito bom o trabalho de vocês..." "Está digno de uma sessão de comunicação." "Consertando umas coisinhas, escrevendo mais uma ou duas páginas e pronto...". "Poxa, obrigada!" "Obrigada, mesmo! Corrigirei nas férias e apresentarei com certeza." - E fui para casa radiante, ouvindo a banda que embalou o meu trabalho, dormir as 3 noites que ganhei por causa de uma Análise Comparada de dois videoclipes baianos.

Quase um ano depois...

"E aí? Cadê o trabalho, vai apresentar, né?" "Ainda não fiz as correções..." "É que viagei, e teve aquele projeto...Mas vai dar tempo!"

Em pleno domingo, faltando pouco mais de uma semana para o término do prazo de inscrição para o seminário, recuperando as energias desprendidas na sexta e no sábado, resolvi, com todo gás corrigir o trabalho - afinal, não é nenhum trabalho falar de duas das minhas paixões(para mim é difícil ter apenas uma): música e videoclipe.
Remexendo nas memórias do meu computador, buscando alguma informação que complementasse a bibliografia, encontrei um texto meu sobre videoclipes que havia escrito há anos, e aquivado logo quando comecei com essa história de blog. Eu nunca postei esse texto, e não sei porque nunca postei nada a respeito dessa experiência audiovisual - acho que eu tinha medo era de descobrir que não entendia era nada desse tal de clipe - tão importante na minha formação pessoal, e que hoje, está virando algo mais sério...O texto nada tem a ver com a minha análise comparada dos videoclipes baianos que pretendo apresentar: até porque só absorvi essa referência após estudar um pouquinho e notar a carência de estudos sobre as crescentes produções locais desse gênero audiovisual.


Então, lá vai uma análise empírica e sensitiva de conteúdo dos cinco clipes que marcaram o meus dos anos 97,98,99...


A internet me permite hoje, a qualquer hora, satisfazer um prazer que antes só era possível lá pelas 3 da madrugada. Não! Definitivamente nada tinha a ver com as libidinosas meias verdades dos filmes pornográficos de canal aberto... Era mais do que isso. A convergência da música com imagens que chegavam a chocar pela sua complexidade e tradução daquilo que era musicado, podia ser vista nos videoclipes , lado b, amp, alternativos (chamem do que quiser). Aqueles que ninguém assistia porque não entendia e que perderam o excedente espaço no único canal de música, que atualmente, prefiro não comentar mas que inda pode ser contemplados pela difusão de um meio mais democrático no qual a programação é da melhor qualidade para quem sabe usar.
Era apenas uma questão de sensibilidade, pois me lembro de ser muito jovem para ter conhecimentos técnicos sobre audiovisual. Mas aquilo prendia a minha atenção de tal forma que as imagens permanecem até hoje na minha memória quase que exigindo que eu as externe, registrando aqui a minha admiração pela combinação mais completa - “fotográfica, cinematográfica, video-artística, musical”.

Estava cochilando em frente à TV numa madrugada de 1997, quando fui despertada por um psiu! Era a Björk cantando It’s oh so quiet - Muitos ainda me questionam sobre o potencial artístico "dessa não mulher histérica que diz que faz música", e eu nem gasto a saliva explicando o que é histeria e música. - A fórmula desse clipe possui a assinatura do Spike Jonze, um dos caras que sempre admirei sem saber era a referência nos estudos pós-modernos sobre vídeiclipe (para aminha felicidade,descobri isso e outras coisas antes de virar acadêmica). Esse “Dançando na chuva” meio propaganda dos anos 80 leva a crer que “curta musicais” são esteticamente audíveis.
Mas O que seria da Björk se não fossem os seus clipes polêmicos? Por isso tenho que registrar aqui um que que se enciaxe nessa descrição.EmAll is full of love, a estranheza chega a ponto de questionar os sentimentos humanos e a tecnologia ao exibir dois robôs se relacionando enquanto passam por uma manutenção... Coisa de freakshow? Não, faz muito sentido.

Outra assustadoramente envolvente é a Portishead. Certa vez cheguei a ter pesadelos por causa de All mine. Em p&b como na época dos festivais de música, do yeah yeah yeah, e dos Mutantes, a menina andrógena faz o seu show apático cantando tudo aquilo que deseja dizer e que talvez fosse incapaz de expressar de outra forma. Percebi que ainda era uma criança e que a estética das imagens que me agradavam estavam bem distantes do mundo infantil

Num ritmo menos apavorante o Daft Punk, dirigido também pelo Jonze, personificou Da funk em um dogman urbano embalando sua dura vida com esse som. Foram cinco minutos atentos à história daquele cão cidadão que é apenas mais um dentre tantos espalhados nas metrópoles.

Música e imagem já se mostram indissociáveis...A quinta e última “audiovisão” é Elecktrobank do Chemical Brothers, dirigida pelo mesmo Spike Jonze. Poderia ser apenas uma transmissão de ginástica rítimica pela TV, mas a música juntamente com a atuação de Sophia Coppolla captadas pelo criador transmitem o estado emocional da ginasta a cada movimento, em cada expressão, sem precisar cantar ou dizer uma só palavra. Essa parceria de ritmo pulsante entre os brothers e Jonze rendeu uma das melhores produções do gênero.

*Escrito entre o final dos anos 90, início de 2000.


Hoje a minha visão desses e de outros clipes e mais ampla, ainda que limitada. Mas o que posso afirmar sobre o videoclipe é que ele transmite além da imagem do artista e o que é dito em sua música: ele recria um universo iconográfico no qual a música e imagem fazem parte, se relacionam, constituindo uma nova significação para essa produto. E isso só pode percebido aos olhos de quem viveu e vive o pastiche de informações midiáticas do mundo moderno, pós-moderno.

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