Desde sempre

E aí, vocês levaram? O que? O prêmio? Levamos...O trabalho de volta para casa.
Após uma semana de prospecções quase bem sucedidas e um mês de Agosto com direito ao trocadilho do popular, a chance de findar a semana repensando a vida é quase total.
O desgosto tem que ser expelido de alguma forma! Comecei com a frase "Todo mundo que não conseguiu fazer jornalismo acaba em publicidade". Como assim, acaba? Sentada em um banco da faculdade, segurando o trabalho que retornara percebi que estava mesmo era começando.

Após essa declaração permito-me afirmar que já superei essa fase "Madalena arrependida". Na verdade nunca estive nela, pois, desde pequena, eu sempre soube.
Sempre soube também que era da criação que eu gostava. Mesmo quando descoordenada. Comecei criando estórias, mas depois da que o passarinho se escodeu no guarda-roupa e fez xixi nos lençóis decidi mudar de vertente. Passei para os desenhos, privação da qual até hoje não me livrei. Era à mão livre mesmo, nas caixas de som se estendendo às paredes. Fui para o papel e resolvi nomeá-los. Acho que era o medo de nem eu mesma saber o que era aquilo segundos após...

Eis que surge a redenção! No auge dos meus cinco anos, a primeira leitura. Alfabetização, um passo tão importante na vida de uma pessoa que pode até ser o decisor do seu futuro. "Farmácia Santana!" pronunciei na calma de quem já era fluente, dentro do carro da minha dinda. "Ela está lendo,gente!", "Repita aí, Lari!", "Oh, meu Deus", "Você viu isso aonde? Aponte aí!", "Duas palavras!"...
Isso mesmo, a minha primeira palavra, foram duas palavras e lidas num OUTDOOR.
Não se sabia quem estava mais emocionada, se era minha mãe, minha dinda ou o Chevete dela que engasgava e exalava álcool pela Avenida Paralela.

Estava lido. Só faltava dizer que queria ser publicitária e, ainda por cima redatora...

A minha paixão pelas letras só aumentava. Decidi tocar violão e não contente com lentidão do processo de aprendiazado, já estava compondo antes mesmo de dedilhar
o primeiro acorde. Resultado: aprendi a tocar violão, escrever música que é bom, nada. Aí veio o ginásio, e as dificuldades dos trabalhos em grupo. Um dia fiquei sem grupo e encarei sozinha o desafio. Criei uma lanchonete virtual para o trabalho de Artes, "Sanduíche.Com". Fiz a marca exibindo a minha velha dificuldade motora no desenho, mas a compensação veio, e na hora do jingle soltei o gogó, estalei os dedos e tirei um dez! Sob protestos da sala, que batia pé firme afirmando já ter ouvido aquilo, mas o professor tomou partido e me defendeu, "Vocês estão é com inveja!"

Mudei de escola, não pelo episódio de Artes, e sim para me preparar para o vestibular. Ele se aproximava e a dúvida permanecia. Jornalismo ou Publicidade? Eu gostava mesmo era de escrever. Me arrisquei no teatro, atuei e até escrevi um roteiro para as memoráveis Feiras Culturais. Tive direito a Teatro de verdade e tudo. Criei até um jargão nos ensaios da 8ª série, "Cadê meu script?". Bem se via que eu não era uma boa atriz nem roteirista. Não sabia que o Script era o termo usado para textos cinematográficos!

O Ano decisivo chegou e eu vislumbrava os dias na Federal, Enquanto assistia atenta às aulas de Gramática, Literatura e Redação. Quando alguém me perguntava qual o curso pretendia, respondia em alto e bom tom "Jornalismo" e só depois com a voz mais amena quase inaudível, "Se eu não passar em Jornalismo irei cursar Publicidade na..." Tudo ocorreu fora da ordem natural para mim. A segunda opção conquistou o primeiro lugar em condições irrecusáveis. Tentei mudar o rumo da história, mas no vestibular, não passei.

E sem precisar de provas, a vida se encarregou de me colocar no lugar onde sempre soube que estaria ou teria que passar.