terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Feliz Natal



Todos os anos escrevo sobre o invólucro natalino que embrulha os meu estômago desde que o Papai Noel me fora devidamente apresentado. Em 2008, não precisei me esforçar tanto para deixar a minha medíocre impressão sobre essa época, pois, a 7ª arte, o Brasil, e Selton Mello se encarregaram disso.

Em Salvador, as ruas de dezembro são todas parecidas com a Avenida 7, e se já não gostava dela antes, após à mais recente experiência, gosto menos ainda. Resolvi findar o ano de maneira diferente, na verdade não decidi, apenas percebi que aquelas férias despreocupadas ficaram para trás junto com os dois primeiros anos da faculdade. Comecei um curso justamente no foco consumo das classes B2;C1;C2;D;E, lá pelas redondezas da tal avenida, e caminhei por lá até a véspera da véspera do fatídico Natal. Fiz um exercício de Marketing avançado, direto no ponto de venda, conhecendo o mercado, como um professor meu diria. Pena que não pretendo atuar na área.
Recebi uns empurrões, muitos panfletos que garantiam análises não muito profundas durante o percurso. Entre uma segurada na bolsa e outra dava uma olhada nos preços, nos artigos mais procurados, e, não esquecendo da criatividade dos lojistas e ambulantes: "Últimas unidades", "Por apenas...".

O exercício continuou num atípico calendário de festas para mim. Em minha casa nunca tivemos hábito de fazer "Compras de Natal", até porque não somos muitos. Mas nunca deixei de receber meus presentes, mesmo não participando dessa maratona desenfreada para ganhar dívidas.
Esse ano completei o circuito me arrastando pelos três principais shoppings da cidade, tudo isso para encontrar algo que me vestisse, contendo a letra P ou o número 35. Esse número existe? Eu não pude adiar, pela primeira vez tinha mil coisas para fazer nas ruas do Natal, ainda que ele continuasse a mesma coisa para mim: a mesma data saudosa e depressiva que antecipa o Ano Novo. Ou seja, eu tinha mil coisas para fazer antes de 2009.
As lojas deram um banho em mim. Descobri que não sou boa em definir um valor para as coisas, muito menos em comprá-las sozinha. Aprendi também que se eu entro na loja e não compro, o vendedor perde a vez e me xinga dos pés a cabeça, logo, preciso trabalhar para que, no ano que vem, eu seja menos depreciada.

Em meio às "vitrines mágicas" e todos os clichês do Natal fui ao cinema assistir a um filme que de clichê só tinha o título. "Feliz Natal", dirigido pelo também ator Selton Mello, foram os votos mais sinceros que já assisti. Cansada de ser soterrada pela neve em "Esqueceram de mim", e de passear pela Nova York do "Sintonia de Amor", em 2008, encontrei um filme que mostrasse um pouco do que eu sinto todos os anos, ainda que a história não se assemelhe com a minha, ela tem aspectos bem próximos dos que se encaixam na minha definição sobre o Natal. Imagens sujas, desfocadas e os movimentos da câmera refletem o desgaste do tempo e o incômodo das reuniões com muitas pessoas gesticulando, assim como a trilha sonora, sombria e temática, acompanhada de tons vermelhos dourados, às vezes ausentes. Tudo isso serve de fundo para a narrativa, e, para as atuações impecáveis de Leonardo Medeiros, Paulo Guarnieri, Graziela Moretto e Darlene Glória.
A sinopse aqui não cabe. O que tenho a dizer de "Feliz Natal" é que, entranhados nessa evocação estão o desespero por não conseguir conviver com as memórias que vêm à tona no "balanço anual da vida", os métodos de fuga em cada idade, e o esforço para manter o social nas datas comemorativas.

Se o Natal é feliz, depende do ponto de vista cada um. Para mim não representa algo tão pesado quanto as cenas de um filme, mas no final, acabo entrado no clima, procuro acertar as contas comigo mesma enquanto observo o ambiente familiar, como uma estranha, onde a maioria come, bebe e fala demais.

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