segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

(Im) Perfeito

Ai de quem tente desafiar as condições normais de temperatura e pressão...

Um thriller nem um tanto assustador, o que é um tanto angustiante para o espectador que necessita se desvencilhar do real a ponto de não poder se espelhar, e decepcionante para quem não estava preparado para receber a mensagem da forma mais dura e crua:

"As únicas coisas que estão no seu caminho vêm de você mesmo. Então, livre-se delas."

Venho aqui falar de Cisne Negro, mas poderia ser um texto absolutamente concentrado em um adjetivo nato da mente humana: cruel (escrevi um texto sobre há alguns anos e com certeza está longe da perfeição).

A perfeição vista a olho nu tem muitas nuances. Partindo do pressuposto que para ser encarada como tal é preciso assumir o caráter mais natural possível diante quem vê, sendo assim tão vulnerável ao erro quanto os mortais, com uma diferença. A possibilidade de tornar esse erro imperceptível, em relação ao que foi concebido.

Questão de conhecimento, de si e do objeto em questão. E é desse conhecimento que se alimenta a arte. E a vida. Ambas se misturam e se separam por uma linha tênue e claustrofóbica como os movimentos de câmera, cenários com pouca luz e os planos médios que me remeteram de longe ao filme Persona (Ingmar Bergman, 1966).


Dupla personalidade. Uma "non grata" por ser imperfeita e a outra criação dos devaneios de uma artista. E é no palco que Persona (com ressalva à diferente reflexão, nível de profundidade e complexidade deste) e Cisne Negro se encontram e se distanciam.

Uma atriz e uma bailarina vivendo a carga de protagonizar verdadeiros clássicos: Electra e Cisne, Negro. A primeira (Mrs. Vogler, Liv Ullmann) sofre por não conseguir desempenhar tão bem outros papéis que assume em sua vida e a segunda (Nina, Natalie Portman), luta contra a dificuldade de executar a coreografia dos dois Cines (o Branco e o Negro) com a mesma desenvoltura. A prova de que ninguém é perfeito.

O bom e mau. A técnica e a leveza. A culpa e o prazer. Medo que move e paralisa. A necessidade de ser alguma coisa.

No final, não há mistério no Cisne, nem o extraordinário. É apenas o conjunto de técnica e feeling de artistas que se deixaram levar para conduzir sua obra a fim de atingir nada mais nada menos que a perfeição e nos deixar com aquele silêncio agonizante no final. Metalinguagem?

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